Notícias

17
Mai/18

Empresa que integra fundo de Harvard comprou terras griladas no Oeste da Bahia

Propriedade de fundo bilionário da universidade americana explora terras no cerrado com longo histórico de expulsões, fraudes e mortes

No rosto dos trabalhadores da Vila Taguá, em Cotegipe (BA), a expressão é de expectativa. Muitos vieram de municípios vizinhos à igrejinha do povoado, nesta manhã quente e chuvosa, ansiosos por contar suas histórias. Todas elas estão relacionadas a conflitos agrários envolvendo os 140 mil hectares da Gleba Campo Largo, que hoje pertence quase inteiramente à Caracol Agropecuária, empresa que está entre os ativos de um fundo dos doadores da Universidade Harvard com patrimônio de US$ 37 bilhões. Os trabalhadores querem que a área ocupada pela Caracol, segundo eles fruto da grilagem de terras públicas, seja destinada à reforma agrária como estabelece a Constituição.

Na audiência reunida pelo padre austríaco Martin Mayer, da ONG 10senvolvimento, também há relatos sobre comunidades tradicionais de ribeirinhos com um histórico de expulsão das terras onde viviam à margem do rio Grande, muito antes da chegada da Caracol – ou “dos americanos”, como eles dizem. Alguns relatam despejos ainda no século XIX, quando as áreas que hoje estão em poder da empresa foram registradas em um antigo cartório paroquial, ligado à Igreja Católica. Outros falam de expulsões, promovidas por fazendeiros nos anos 1970 e 1980, das comunidades que formaram as áreas hoje de propriedade da Caracol. Os ribeirinhos buscam garantias de permanência no território tradicional, o que é amparado pela lei.

Outra figura de destaque, na porta da igreja, destoa da audiência. Gel no cabelo, calça e camisa social com o logo da empresa no peito, Alexandre Araújo é o gerente da Granflor Agroflorestal, responsável por gerir a fazenda da Caracol. Com sede no Rio Grande do Sul, a Caracol pertence à Harvard Management Company (que gerencia o fundo patrimonial de Harvard), através de duas subsidiárias que são suas donas diretas: Guara LLC e Bromelia LLC.

O primeiro a falar é Stelson Bomfim, ex-vereador em quatro mandatos subsequentes no município de Cotegipe. Em 1995, Stelson liderou uma ocupação na Gleba Campo Largo quando ela ainda estava em poder de dois grandes fazendeiros locais. A ocupação durou dez anos até ser expulsa após uma série de episódios violentos – ameaças, mortes e destruição de casas.

Fonte: Publica/ORG
()
  Curta nossa pagína
  Publicidades