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Mar/24 |
34% das vítimas de feminicídio na Bahia tinham entre 40 e 59 anos |
Líder no número de mortes de mulheres no Nordeste, a Bahia registrou 70 casos de feminicídio em 2023. Desse total, 34,29% das vítimas tinham entre 40 e 59 anos. Os dados são do boletim Elas Vivem: Liberdade de Ser e Viver, divulgado nesta quinta-feira (7). O relatório foi realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, com base em números de oito estados do Brasil, sendo eles Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Piauí e Pernambuco.
Para Larissa Neves, pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança e assistente social, a faixa etária alvo dos crimes de feminicídio surpreendeu. “Pela primeira vez essa faixa etária aparece como principal alvo na Bahia, considerando os últimos quatro relatórios. Geralmente, eram mulheres jovens ou até 40 anos de idade que eram as principais vítimas de feminicídio”, afirma.
“Um ponto muito importante é que os casos que envolviam filhos e mães, cônjuges com relações douradoras, homens que se suicidaram após matar as mulheres, eram mulheres acima de 40 anos de idade. Temos um novo desafio para entender o que acontece nessas dinâmicas familiares e relacionais. É um dado para tentarmos entender”, enfatiza a pesquisadora.
Eduardo Carvalho, pesquisador associado do Núcleo de Estados Interdisciplinares sobre a Mulher na Universidade Federal da Bahia (Neim/Ufba) aponta que, ao pensar em violência contra a mulher com as lentes de idade/geração, é possível perceber que mulheres em idade reprodutiva estão mais expostas a crimes de natureza sexual.
“No caso do feminicídio, penso que uma questão que não se pode perder de vista é que os casos que geralmente chegam e são tratados como tal pelo sistema de justiça e, portanto, vão gerar estatísticas, são aqueles que chamamos de feminicídio íntimo, quando é praticado por uma pessoa com quem a vítima tem ou teve uma relação íntima de afeto. Talvez isso nos ajude a compreender por que as mulheres em idade adulta figuram como a maioria”, diz.
Larissa Neves ressalta que, durante a fase de monitoramento dos casos que integram o boletim, foi observado que a maioria das mortes por feminicídios tinham como autores cônjuges e ex-cônjuges, bem como namorados e ex-namorados. A pesquisadora alerta apenas para o fato de que, apesar de configurarem maioria, feminicídios não são cometidos apenas por parceiros íntimos, mas por homens de convívio próximo, como irmão, pai, filho, tio, amigos, vizinhos e colegas, desde que a motivação para o crime tenha sido o ódio de gênero.