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Fev/24 |
O duro futuro da família Roma na política baiana |
Embora não se saiba ainda ao certo o que negociou com o prefeito Bruno Reis (União Brasil) para apoiar sua reeleição, o ex-ministro da Cidadania do governo Jair Bolsonaro, João Roma (PL), permanece com os dedos cruzados para que o acordado seja cumprido. Por causa do sigilo com que as negociações são tratadas, e também da pouca importância que se dá ao personagem, as conversas giram tanto em torno de que Roma poderá indicar a secretaria de Saúde, hoje em poder da também vice-prefeita Ana Paula Mattos (PDT), quanto de que não lhe sobrará mais do que uma ou, no máximo, duas prefeituras-bairro.
À primeira vista, a segunda opção parece mais concreta. As especulações, principalmente as que rebaixam o peso político e administrativo da futura posição a ser ocupada por algum afilhado do ex-ministro, levam em conta exatamente sua frágil condição atual, herdada do governo fracassado no qual, dado o nível dos colegas, conseguiu a proeza de aparecer como um dos expoentes. Aliás, poucos não antecipariam que, depois da inexpressiva campanha ao governo da Bahia que levou a efeito como representante do capitão boçal, com o único propósito de fustigar o ex-aliado ACM Neto (União Brasil), restasse grande poder a Roma.
De fato, não deve interessar a Bruno registrar na disputa à sucessão municipal um candidato bolsonarista que possa lhe subtrair os votos que podem vir do segmento do eleitorado que professa os valores do ex-presidente, ainda que se saiba que a eleição majoritária municipal se assemelha mais à de um síndico. Daí, o interesse do prefeito em manter sob a sua rede de relações políticas o ex-ministro, exatamente para que não tenha que desviar esforços numa campanha que, em condições normais, tudo indica, não lhe deve exigir mais do que demandará de qualquer candidato que esteja no comando de uma gestão aprovada pela população.
Na verdade, objetivamente, estimula o desejo do prefeito de incluir Roma entre seus aliados na campanha à reeleição o tempo de TV a que o PL terá direito, assim como os recursos do fundo eleitoral de que dispõe, legados da passagem do partido pelo governo como sigla do presidente da República. Afinal, nem que quisesse pressionar por mais espaço na atual administração ou na próxima, ameaçando disputar a Prefeitura de Salvador, Roma conseguiria, uma vez que corre o sério risco de sair de uma eventual disputa em outubro próximo ainda muito menor em tamanho do que aquele com que encerrou a campanha à sucessão estadual de 2022.
Pelo contrário, os sinais são de que o ex-ministro, a despeito das relações que construiu durante o governo passado em Estados ricos como São Paulo, usando a condição privilegiada de membro do governo, precisará calçar as sandálias da humildade e agarrar-se com todas as suas forças a Bruno, se não quiser desaparecer da política no curso de três anos. Todos sabem que a eleição de sua mulher, Roberta, à Câmara dos Deputados, deveu-se à forte estrutura de que dispôs na época e não à identidade de ambos com o bolsonarismo. Esta marca pertence a quadros como o deputado Capitão Alden (PL), não por acaso forte candidato a sucedê-lo na presidência do PL baiano.
*Raul Monteiro
Colunista político
Política Livre