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Jul/23

Professora é agredida, e alunos denunciam violências na Ufob em Barreiras

Passava das 20h quando alunos da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), em Barreiras, ouviram gritos vindos de uma das salas. Lá dentro, um aluno xingava a professora, enquanto apontava o dedo indicador no rosto dela. Não era a primeira vez, naquela noite de 14 de junho, que ele protagonizava um ataque, nem foi o primeiro registro de violência dentro da instituição, que acaba de completar dez anos.

A agressão contra a professora do Centro das Humanidades reacendeu o debate sobre as ocorrências de agressão na instituição. Segundo uma dezena de alunos e professores da universidade ouvidos pela reportagem na última semana, a instituição tem sido cenário de episódios de agressões físicas, verbais e sexuais, sem propor soluções contra o problema.

Depois do ataque contra a professora, alunas espalharam cartazes pela universidade. Em um deles, está a frase escrita à mão: "A Ufob deve ser um lugar seguro. Queremos trabalhar, estudar e viver".

Desde 2016, quando entrou em funcionamento, a Ouvidoria da Ufob recebeu 28 denúncias anônimas relacionadas a assédio moral, assédio sexual e conduta ética - entre 2020 e 2021, a universidade ficou fechada devido à pandemia. Na versão de parte dos estudantes e professores, os dados estão subestimados por falta de denúncias e um clima de acolhimento pela instituição.

Das denúncias enviadas em cinco anos, quatro se referiam a violência física - três contra estudantes e uma contra professor. A universidade não se pronunciou oficialmente sobre a agressão contra a professora, há três semanas, no seu canal oficial de comunicação.

O episódio é apurado por um processo administrativo em sigilo, para “respeitar os direitos das partes envolvidas”, mas o agressor foi afastado por dois meses. Procurada, a vítima comentou a escalada da violência: "Considero que os discursos de ódio circulados livremente impulsionaram determinadas pessoas a se sentirem autorizadas a agir com violência, sobretudo, contra mulheres, negros e gays. São ataques com perfis misóginos, racistas e sexistas".

Ela disse que foi acolhida pelos estudantes e colegas, que prestaram apoio, e também pela gestão da universidade, que "também agiu com presteza e logo tomou as medidas cabíveis, com a suspensão cautelar do estudante e abertura do processo administrativo", disse a docente.

Com medo, ao ouvir gritos de um homem, outra professora ficou na universidade, com os alunos, até meia-noite. Naquela aula, por coincidência, os estudantes apresentaram seminários dos grupos sobre violência. Um deles foi sobre violência escolar.

Ela já conhecia a fúria do agressor que berrava ao lado: em 2017, foi vítima de agressões físicas e verbais cometidas por ele, no campus de Barreiras. O agressor continuou a intimidá-la e a professora, em março de 2022, passou a ir ao trabalho acompanhada por um segurança privado.

O outro lado: O que diz a Ufob?

A reportagem questionou a instituição sobre os casos denunciados por alunos e quais ações ela adota para conter a violência no ambiente acadêmico. A universidade reconheceu o “desafio de enfrentar o 'medo' relatado pelas vítimas para a realização das denúncias como fruto de uma estrutura social”.

A UFOB ainda afirmou que entende o assédio moral e a violência de gênero como pautas a serem enfrentadas, "consciente que a cultura do silêncio é realidade do Brasil", não "exclusiva" da instituição. Segundo a pesquisa Violência contra a Mulher no Ambiente Universitário, do Instituto Avon, 67% das universitárias brasileiras já sofreram alguma violência no ambiente acadêmico.

Fonte:Correio da Bahia
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