Notícias

18
Jun/23

Preços no atacado caem 7%, maior queda em 28 anos

Na visão de economistas, deflação forte nos preços de matérias-primas já começa a aliviar preços para os consumidores e abre mais espaço para que Banco Central corte a Selic

Depois de passar dos 40% e bater recordes em 2021, a inflação do atacado, que verifica o preço de matérias-primas e produtos vendidos pelo setor agrícola e a indústria, está caindo mais de 7% e registra os seus menores níveis desde pelo menos o início do Plano Real, em 1994.

Na visão de uma ampla ala dos economistas, isso significa que os preços que chegam aos consumidores devem, em breve, começar a refletir pelo menos uma parte dessas quedas.

Isso traz alívio para a inflação geral do país e abre ainda mais espaço para que o Banco Central (BC) possa começar a flexibilizar a sua atual política de juros altos.

“É brutal a deflação acumulada em 12 meses no atacado, e, olhando para isso, não sei se alguém ainda pode ter alguma dúvida de que é necessário reduzir os juros”, defendeu o sócio-diretor da consultoria MacroSector, o economista Fábio Silveira, especializado no setor agropecuário.

“Os preços no atacado funcionam como uma força gravitacional sobre os preços ao consumidor. Eles precedem o comportamento dos preços no varejo e, se estão caindo, significa que, em algum momento, os preços no varejo vão, em alguma medida, acabar caindo também.”

Queda recorde

Variação dos preços no atacado, em 12 meses

A inflação do atacado é medida, no Brasil, pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Nos 12 meses até maio, o IPA caiu 7,6%, uma magnitude de queda que não tinha ainda sido registrada em nenhum outro momento antes desde pelo menos 1995, primeiro ano completo desde o início do Plano Real, que acabou com a hiperinflação no país.

Até então, a maior deflação registrada nos preços aos produtores tinha sido de 4,4%, em dezembro de 2009 e, depois, em agosto de 2017.

Safras recordes de grãos, como a soja, ao lado de um dólar mais baixo e, também, de preços de diversas commodities em queda nos mercados internacionais, conforme a política global de juros altos vai esfriando a demanda por esses insumos, estão entre as principais razões que explicam insumos ficando rapidamente mais baratos também no Brasil.

Só em maio, o minério de ferro, matéria-prima para as vigas e chapas que sustentam as estruturas da construção civil, de automóveis e de eletrodomésticos, caiu 13,2%, pelo IPA da FGV.

A soja e o milho em grãos caíram 9,4% e 15,7% no mesmo mês, respectivamente. Como ambos são a base das rações que alimentam frangos, suínos e bovinos, as quedas deles ajudam, também, que o preço das carnes caia.

Os efeitos já começam a aparecer no varejo: em maio, a inflação da alimentação no domicílio, ou seja, dos alimentos nos supermercados, foi zero, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Diferentemente do IPA, que acompanha o preço dos produtos comercializados na indústria, o IPCA acompanha os serviços e o varejo que chegam diretamente ao consumidor final.

“As commodities estão ficando mais baratas em reais, o que está impactando os preços no atacado e que, por sua vez, começa a chegar ao consumidor”, disse a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, mencionando, por exemplo, o alívio nos preços dos alimentos.

“E ainda tem uma boa parte desta deflação do atacado que ainda precisa chegar no consumidor, o que tende, nos próximos meses, a continuar ajudando na desinflação dos bens industriais.”

Fonte:CNN Brasil
()
  Curta nossa pagína
  Publicidades