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Set/24

Pesquisadores debatem efeitos das mudanças climáticas no oeste da Bahia, 2ª maior produtora de algodão do Brasil

Com salto de cerca de 1,5ºC nos termômetros, especialistas têm debatido alternativas para que calor não atrapalhe desenvolvimento das lavouras, que movimentaram R$ 7,3 bi entre 2022 e 2023

Nos últimos 30 anos, a temperatura subiu em praticamente todo o Brasil. Na Bahia, o maior aumento foi registrado no oeste, região considerada a segunda maior produtora de algodão do país. Com o salto de cerca de 1,5ºC nos termômetros, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os pesquisadores têm debatido alternativas para que o calor não atrapalhe o desenvolvimento das lavouras.

As análises do Instituto levam em consideração as temperaturas de duas amostras de tempo, ambas de 30 anos: de 1961 a 1990; e de 1991 a 2020. Quando as temperaturas máximas dos dois períodos são comparadas, a diferença fica entre 1,2ºC e 1,5ºC. [Veja o gráfico abaixo]



Apesar de não parecer tanto, o aumento de 1,5ºC pode ser um sinal de alerta para a agricultura. De acordo com Miriam Nogueira, doutora em fitotecnia e professora da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), apesar do algodão ser um grande fã do sol, as temperaturas extremas podem causar prejuízos às lavouras.

“A média de temperatura ideal é entre 25ºC e 30ºC. Estudos já apontam que a cada aumento de dois graus nesta temperatura média, há uma queda de produtividade”, afirmou.

💰 A produção de algodão movimentou R$ 7,3 bilhões entre 2022 e 2023 na Bahia. Em relação ao período anterior, o aumento foi de 7%.

🌡️ Historicamente, o oeste da Bahia sempre foi mais quente quando comparado a cidades litorâneas, como Salvador e Ilhéus. O clima da região se assemelha ao do centro-oeste do Brasil: mais seco, com menos umidade e com grande amplitude térmica.

Além disso, de acordo com a meteorologista Cláudia Valéria, no oeste do estado o período chuvoso acontece entre a segunda quinzena de outubro e março. Nos outros cinco meses do ano, entre abril e setembro, não há registros de chuvas – o que torna o ambiente ideal para o plantio do algodão.

“O algodão adora ‘céu de brigadeiro’ e a radiação influencia na qualidade da fibra, que é o que a indústria têxtil exige. Ou seja, quanto mais radiação, melhor a qualidade”, explicou a meteorologista.

Apesar da preferência pelo sol, o aumento das temperaturas pode causar uma série de danos às plantas. Temperaturas médias acima dos 35ºC, podem contribuir para:

🌱 Retardamento no crescimento vegetativo;

🌱 Estresse térmico, que pode gerar desidratação;

🌱 Diminuição da eficiência da fotossíntese;

🌱 Impactos na qualidade da fibra.

A qualidade da fibra é um ponto extremamente importante na cadeia do algodão: é ela que determina o preço pelo qual ele será vendido para a indústria. Enquanto temperaturas médias entre 25ºC e 30ºC resultam em fibras de melhor qualidade, aquelas acima de 35ºC podem resultar no contrário.

“Temperaturas extremas podem resultar em fibras mais curtas, que são inferiores. No processo de fiação, elas não entrelaçam muito bem o que gera aquelas ‘bolinhas’ na roupa. As características da fibra ditam para onde o algodão vai”, explicou a professora Miriam Nogueira.

Além do alerta para o aumento das temperaturas médias, o cultivo de algodão no oeste da Bahia exige um cuidado com as queimadas, frequentes nesta época do ano.

“O cerrado tem um índice de inflamabilidade muito intenso. Tem uma época que temperatura é alta e a umidade relativa do ar é baixa, então é como se a gente tivesse acendendo um fósforo. É um fenômeno natural”, explicou o agrometeorologista e professor da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Marcos Vanderlei.

Plantação reduz carbono


Paulo Schidt produz algodão no oeste da Bahia

Um dos motivos apresentados por produtores de algodão para que ainda não tenha tido registros de grandes perdas causadas pelos efeitos da mudanças climáticas, é a redução de carbono através da fibra do grão.

"A tecnologia que nós trabalhamos agora é plantar mais algodão. Quanto mais fibra a gente tira da terra, mais carbono a gente tira da atmosfera. Imagina que quando eu planto algodão, eu tiro carbono da atmosfera e transformo em fibra. O que nós estamos fazendo é a nossa parte", contou o produtor rural Paulo Schidt, que mora desde 1979 em Luís Eduardo Magalhães, cidade do oeste baiano.

O produtor é formado em agronomia pela Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, e é responsável por uma plantação de 30 mil hectares de algodão. Parte da safra produzida é exportada para países como China, Turquia e Vietnã. A outra é comercializada no mercado interno, principalmente no nordeste brasileiro.

Os caroços do algodão são transformados em proteína animal e a fibra na produção de roupas e toalhas.


Algodão de Correntina, terceira cidade que mais produziu plantação no oeste 

Especialistas na área da agrometereologia têm debatido as formas de se antecipar caso os efeitos comecem a afetar a produção de algodão. Uma delas é o investimento em tecnologias que permitam deixar a fibra mais tolerante à seca e ao estresse térmico.

De acordo com o agrometeorologista e professor Marcos Vanderlei, existem modelos de pesquisas sobre o tema que preveem cenários otimistas e negativos até o ano de 2100. Essas pesquisas, conforme o especialista, servem como um alerta para os produtores.

“Existem pesquisas ligadas ao plantio direto. Nesse caso, se diminuir a chuva, vai existir um manejo que permita que a água fique retida no solo. Assim ela demora a sair e fica mais tempo à disposição da planta”, explicou.
Fonte:G1
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