Eu estava sozinho na direção da Veja, o meu pai morrendo no hospital, e montamos uma cobertura extensa e aprofundada. Graças à revista, descobriu-se que a causa principal havia sido um problema no reverso do avião. Dedicamos duas ou três edições ao acidente, já não me lembro precisamente. Entre uma e outra, o meu pai morreu. Enterrei-o e fui para o fechamento.
Dois anos depois, em junho de 2009, houve o acidente com o avião da Air France que fazia a rota entre o Rio de Janeiro e Paris. Duzentas e vinte e oito pessoas mortas. Em meio à tempestade, o equipamento externo que mede a velocidade do avião em relação ao ar congelou-se, e o piloto inexperiente e mal treinado, abandonado por um comandante relapso e sem parâmetros confiáveis no painel, ergueu o bico do Airbus até que ele entrou em estol, perdendo a sustentação e mergulhando no Atlântico revolto, próximo à costa da África.
As histórias levantadas pela imprensa sobre a conduta da empresa são arrepiantes e suscitam outra pergunta: como é que a VoePass pode ter licença para voar?
Os brasileiros precisam saber se a agência fez vista grossa para a negligência da empresa. Os brasileiros precisam saber se a Anac não faz vista grossa também para a manutenção dos aviões das três grandes companhias que operam no Brasil. Seria bem-vinda uma CPI da Anac.