Entre os dias 14 e 17 de maio, o projeto artístico CÓSMICA – girar em roças realizou uma série de quatro apresentações gratuitas em comunidades rurais de Barreiras. A performance de dança passou pelo Morrão, São José do CTI, Mucambo e pela Aldeia Indígena Kiriri, em uma circulação que ampliou o acesso à arte contemporânea fora do eixo urbano.

Idealizado pela dançarina e professora Lari Martins, com direção coreográfica e produção cultural de Danilo Lima, especialista em dança, o projeto foi contemplado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), por meio do Edital nº 006/2024 – Rivelino Silva de Carvalho.

As apresentações foram seguidas por uma roda de conversa com a arquiteta e pesquisadora de Territórios Negros, Delânia Azevedo, professora do IFBA campus Barreiras, que conduziu um diálogo com o público sobre Arte e Patrimônio Imaterial.

A proposta de CÓSMICA vai além do espetáculo, Danilo Lima explica que a escolha dos espaços onde a performance aconteceu — quintais, terreiros, associações comunitárias, margens de rio e oca indígena — reforça o elo entre arte e território. “A circulação da performance por zonas rurais com maior densidade populacional em Barreiras é uma forma de reconhecer o valor simbólico e afetivo desses lugares. O gesto de dançar nesses espaços reafirma sua importância, estimula práticas artísticas locais e fortalece o vínculo entre a arte e a vida cotidiana”, aponta o diretor.

A obra estreou em março de 2024, na Casa Amarela (Barreiras), como parte das ações em alusão ao Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e ao Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial. Desde então, a performance já passou por mostras culturais, audiências públicas e pelo Centro de Cultura de Porto Seguro, representando a Bacia do Rio Grande.

Na visão de Lari Martins, o projeto é também um gesto político. “Levar uma obra de dança contemporânea para espaços onde isso ainda é raro é um ato de resistência e afirmação. ‘CÓSMICA – girar em roças’ desperta leituras diversas e provoca sentimentos que se conectam com o chão, com o tempo e com as histórias desses lugares. Precisamos estar nesses territórios, e não apenas nos palcos dos grandes centros”, afirma.

CÓSMICA propõe uma experiência sensorial e simbólica. A performance é construída a partir de uma investigação corporal em espiral, que se entrelaça com a noção de tempo cíclico, de início, meio e fim como parte de um mesmo movimento. Na dança, a relação com a terra é ponto de partida e de retorno. Além de ampliar o acesso à cultura, o projeto reafirmou o papel das políticas públicas na democratização das artes e na valorização de linguagens que dialogam com a ancestralidade, o território e a memória coletiva.