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Jan/25 |
É a barata a favor do chinelo, Sidônio |
Os governistas reagem desnorteados ao vídeo de Nikolas Ferreira (PL-MG), que foi apontado como o motivo para o recuo do governo Lula sobre o monitoramento do Pix. Mas o deputado federal de oposição apenas sintetizou o sentimento da porção de brasileiros que temia ser forçada a pagar a conta de um governo perdulário.
Um vídeo de protesto em particular — e alguns deles foram incluídos na gravação de Nikolas que ultrapassou 300 milhões de vizualizações — é especialmente eloquente sobre esse sentimento de desconfiança e revolta.
A autora se identifica como Fabi Terra no TikTok, uma “pobre de direita”, essa categoria de que a intelectualidade brasileira (de esquerda) sempre debochou e que agora vai à forra. Não por acaso. Nikolas também compartilhou esse vídeo em suas redes sociais.
“Gente, eu não sei o que está sendo pior: se é o governo, agora usando a Receita Federal para arrecadar mais para bater meta ou se é os petistas fanáticos que agora deram para criminalizar o brasileiro trabalhador, nos acusando de sonegadores de impostos para poder justificar a sua defesa, o seu bandidinho favorito”, reclama.
“É porque agora deram para criminalizar você, que é manicure, que é trabalhador, que é motoboy, que é correria, assim como eu, né? Porque o governo não quer saber o que das suas movimentações é lucro, né? Mas eles querem saber o que você movimentou para eles tirarem a parte deles, então o que a galera de esquerda está fazendo? Estão criminalizando você como trabalhador, te chamando de sonegador”, segue Fabi no vídeo, que tem 81 mil vizualizações no TikTok.
Na sequência, a influenciadora de direita dá uma exagerada, colocando Hitler no meio:
“Essa, com certeza, é a galerinha que entregaria os judeus na época da Alemanha do bigodinho, né? Porque era a lei, estava na lei que tinha que entregar um judeu, então eles entregariam facilmente. O problema é que aqui, no Brasil, a coisa está tão feia, meu filho, que se você comprar três pacotes de café, você já tem que declarar imposto de renda agora.”
“Vamos lá, olha o nível [a] que vocês chegaram, ao ponto de chamar o pobre trabalhador, correria, de sonegador de imposto, de criminoso, do caramba [a] quatro, para justificar a merda e a ganância do seu político, que não consegue manter as metas dele. É a barata a favor de chinelo“, finaliza.
Desde que o vídeo de Nikolas viralizou, os governistas tentam contrapô-lo. A última tentativa foi da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que conseguiu recentemente pautar o debate sobre o fim ds jornada de trabalho 6×1, um projeto sem qualquer viabilidade no Congresso Nacional e sem sentido, porque não haveria condição ser reduzir a carga de trabalho por mágica.
O vídeo de Hilton sobre o monitoramento do Pix contou com a mobilização da militância de esquerda e beirava os 60 milhões de vizualizações um dia depois de publicado, pouco mais da metade do de Nikolas, que superou 100 milhões de views em 24 horas.
A gravação da deputada sofre do mesmo problema da feita pelo colega Lindbergh Farias (PT-RJ): rebate uma mentira, a alegação de que o Pix seria taxado, mas não a verdade, já que o principal motivo para o governo recuar do monitoramento foi a desconfiança em relação às intenções de Lula — e isso foi confirmado pela publicação de uma medida provisória que pretende exatamente garantir que o Pix não será taxado nem monitorado.
O vídeo de Nikolas viralizou porque expressava uma verdade, assim como ocorreu no caso dos memes de Taxadd, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, virou o protagonista de uma série de paródias cinematográficas sobre impostos e taxação, na época do debate sobre a taxação das compras do exterior de menos de 50 dólares.
E, assim como ocorreu no caso de Taxadd, os governistas preferem agora desviar do assunto, desqualificando as críticas e desconfianças sobre as intenções da instrução normativa da Receita Federal, ao tratá-las como algo orquestrado e, portanto, ilegítimo.
A reação aos memes de Taxadd coube a Paulo Pimenta, que se imolou em público na semana passada para limpar a barra de Lula. A reação à crise do Pix cabe a Sidônio Palmeira, seu substituto, que segue na mesma linha do antecessor.
Haddad disse ter enxergado o dedo de Jair Bolsonaro no vídeo de Nikolas, em mais uma tentativa de tratar como ataque político-partidário o que na verdade é um sentimento difuso e generalizado de uma parcela da população que o governo Lula tenta sem sucesso convencer e seduzir.
É possível ganhar uma batalha de comunicação mesmo estando errado, como mostrou Guido Mantega em debate contra Armínio Fraga na eleição de 2014, mas essa é uma missão muito mais difícil, por definição, ainda mais quando travada por milhares de pessoas ao mesmo tempo.
Enfim, restou aos governistas torcer para a barata abraçar o chinelo.