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22
Mar/14

Pr. Adejarlan Ramos: A produção de um texto e as contrações dolorosas

Procurado pelos jovens, Sócrates passa horas discutindo nos locais públicos de Atenas, como a praça ou o ginásio, onde interpela os transeuntes e faz perguntas aos que julgam entender determinado assunto, deixando-os afinal sem saída e obrigados a reconhecer a própria ignorância.

Esse procedimento ficou conhecido por método socrático, nascido da perplexidade do filósofo diante do oráculo de Delfos, que o identificara como o homem mais sábio. Não se considerando como tal, mas sem desacreditar do oráculo, consultas as pessoas que se diziam sábias e descobre a fragilidade do saber. Percebe então que a sabedoria começa pelo reconhecimento da própria ignorância. “Só sei que nada sei” é, para Sócrates, o principio da sabedoria, atitude em que se assume a tarefa verdadeiramente filosófica de superar o enganoso saber baseado em ideias preconcebidas.

A primeira parte do método socrático chamava-se ironia (do grego eironeia, “perguntar, fingindo ignorar”), processo negativo e destrutivo de descoberta da ignorância. A segunda parte, a maiêutica ( de maieutike, “relativo ao parto”) é construtiva e consiste em dar à luz novas ideias.

Sendo filho da parteira Fenáreta, Sócrates sabia que as respostas às essências das coisas so vinham através de um doloroso processo de parto.

Escrever um texto é um processo semelhante. Primeiro a ideia é fecundada através de um insight, que procedendo de um ouvido atento e um coração sensível, seja em um culto, em um momento devocional ou  interpelado por um interlocutor, se tornam no dizer de Shakespeare pedaços de felicidade.

Depois começa o processo de gestação. Neste momento, o texto vai amadurecendo, com a ajuda da Lógica, que começando com os problemas da contradição –mudança e identidade-permanencia dos seres de Heráclito e Parmenides chega as aguas mais límpidas com Platão e Aristóteles com as suas Dialética Platônica e Lógica Aristotélica , respectivamente. Se na logica platônica trabalhamos contrários e contradições para se chegar a essência das coisas, na logica aristotélica utilizamos procedimentos naqueles raciocínios cujo pontos de partida sejam princípios, regras e leis necessárias e universais do pensamento.
      
Aqui é um momento crucial. Se não percorrermos este caminho com cuidado, podemos incorrer no erro de ter um texto sem coerência e sem coesão, quase sempre produtos de ideias preconcebidas ou imaturas. O resultado não pode ser mais desastroso: um texto acéfalo.

Assim, percorrendo os caminhos da lógica e ativando o conhecimento enciclopédico e de mundo acumulado, vai o texto ganhando forma. Qual obra de um escultor, vai ele ganhando forma e contornos. Qual obra de um pintor vai ele ganhando cores, que no multicolorido das palavras se eterniza como uma obra rara!

Pronto! Um retoque aqui, outro ali. Muda-se um verbo aqui, retoca um adjetivo acolá, coaduna-se uma concordância verbal ali. Se com a gramática verifica-se a estrutura, com o estilo, a beleza. O processo finalmente chegou ao fim. Depois de dolorosas contrações, o texto nasce. Qual felicidade de um pai na sala de espera de uma maternidade, assim se assemelha a felicidade de um escritor. Um sorriso de satisfação surge nos lábios do escritor.

O texto nasce para ganhar o mundo! Não foi assim a Eneida de Virgilio e os Lusíadas de Camões? Virgilio tentou fazer da Eneida o texto mais perfeito de todos os tempos. Foi assim os escritos de Lutero e Calvino, que não se limitando à Alemanha  e à Genebra do século XVI, alçaram vôos altos e longíquos. Se os de Lutero abalaram os alicerces de Roma, os de Calvino solidificaram a Teocracia de Genebra.

Por conseguinte, valorizemos mais a produção literária. Literatura também é arte. É a arte através da palavra!

Pr. Adejarlan Ramos
Vice-Presidente da Assembleia de Deus em Barreiras (CEADB e CGADB).

Fonte:Blog do Sigi Vilares/Colunistas
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