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Out/19

Oeste da Bahia produz o melhor algodão do Brasil

Produtores investem em sustentabilidade nas lavouras

Há aproximadamente quatro décadas o Brasil era o segundo maior importador de algodão do mundo. Quase todo o produto utilizado por aqui vinha de fora. Hoje o país é o quinto maior produtor e o segundo maior exportador. De lá para cá, a Bahia se consolidou como o segundo maior estado produtor nacional, com uma safra de 1,5 milhão de toneladas do produto por ano, além de ostentar a condição de produzir a pluma de melhor qualidade no Brasil e a segunda melhor do mundo.

Em dez anos, a produção de algodão na região Oeste da Bahia deve crescer 64,5%, de acordo com dados de uma nota técnica da Embrapa sobre os desafios do agronegócio no país. Pela projeção, na safra 2027/2028, a Bahia e o Mato Grosso deverão ser responsáveis por 98% da produção brasileira. E os esforços que vêm sendo feito nos campos do cerrado baiano são para que este crescimento seja sustentável economicamente, ambientalmente e socialmente.

A produtora agrícola Alessandra Zanotto conta que o ingresso no Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) trouxe mudanças positivas para o negócio, que vão além do cumprimento mais assertivo da legislação. “A relação com os investidores, principalmente com os internacionais, é outra”, destaca. O algodão que Alessandra produz tem uma certificação reconhecida internacionalmente, feita por uma auditoria independente. “É um crivo importante, porque mesmo o banco que vai oferecer o financiamento, ou o comprador do produto, não querem se associar a algo de origem duvidosa”, diz.

Além disso, a garantia de qualidade do algodão baiano permite aos produtores se posicionarem de maneira diferente da maioria no setor agrícola. “A gente ouve falar muito em quantidade de produção, em demanda internacional, mas o Brasil precisa se posicionar cada vez mais como um país que oferece produtos de qualidade e não apenas baratos”, defende.

Produção certificada - Hoje, quase 80% da produção baiana já recebeu certificação de qualidade, destaca o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Julio Busato. “Infelizmente, há muita desinformação e tem gente que vê o produtor como alguém sem compromisso com a sustentabilidade, mas isso é totalmente fora da realidade”, garante. Busato lembra que o agricultor precisa da terra para tirar o seu sustento.

“O solo do cerrado é pobre em sua origem. Quando nós iniciamos a produção no Oeste, a média era de 1% de matéria orgânica, hoje você já encontra uma concentração de 2,5%. Isso não é fruto de uma atividade sem compromisso ambiental”, destaca Busato. Ele explica que o algodão é uma cultura “muito exigente”, que demanda muita tecnologia e cuidados com a lavoura.

Entre as ações dos produtores de algodão para a promoção da sustentabilidade, Busato destaca uma parceria entre a Abapa e a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) para a criação de um centro de desenvolvimento ambiental. Segundo ele, foram investidos R$ 11 bilhões na criação de reservas legais para a atividade, correspondentes a 35% do total de propriedades no Oeste. “Se tivéssemos plantado milho nessa área, teríamos gerado R$ 6,6 bilhões”, compara. Segundo ele, as ações demonstram o compromisso dos produtores com a sustentabilidade.

“O produtor tem a consciência de que precisa produzir de maneira sustentável e que isso será cada vez mais demandado no futuro”, diz.

Na última safra, foram certificadas como sustentável 77,7% da área plantada na Bahia. Junto com a entidade suíça Better Cotton Iniciative (BCI), a Abapa certificou uma área total de 247.840 mil hectares. Em relação à última safra, houve um acréscimo de 29,4% da área de algodão certificada, abrangendo um total de 66 unidades produtivas que vêm cumprindo os critérios de sustentabilidade. Desde quando foi iniciado este trabalho, em 2011, houve um crescimento gradual de 21,1% da área certificada.

Para a coordenadora de sustentabilidade da Abapa, Bárbara Bonfim, o trabalho vem consolidando a incorporação dos critérios de sustentabilidade, que checa um total de 225 itens ligados ao respeito à legislação, além dos critérios de sustentabilidade na produção agrícola. “Isto coloca os produtores baianos nos mesmos níveis de excelência com parâmetros mundiais de boas práticas sociais e ambientais seguidos internacionalmente, com respeito aos trabalhadores no campo”, afirma.

Perspectivas - Em sua nota técnica, a Embrapa destaca que a cultura tem perspectivas positivas para os próximos anos, principalmente por conta do aumento na renda média e da população na Ásia, mas também por conta do crescimento da bioeconomia, com a tendência mundial de um maior consumo de produtos naturais.

Completa o cenário o fato de o Brasil dispor de terra e tecnologia para atender ao aumento do consumo mundial de algodão. “A qualidade do produto, os avanços nos métodos para controle de pragas e doenças tropicais, a obtenção de variedades mais produtivas, o desenvolvimento de sistemas eficientes de produção e a destacada organização da cadeia produtiva dos produtores brasileiros de algodão são fatores decisivos para a conquista dos mercados nacional e internacional”, diz a nota.

No próximo dia 24, a relação entre o cuidado com o meio ambiente e a competitividade será discutida em um evento no Senai Cimatec, das 08 às 13h, com inscrições gratuitas pelo endereço Bit.ly/FISC_. O I Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade é uma realização do jornal Correio, Ibama e WWI, com o patrocínio da ABAPA, Fazenda Progresso e Suzano S.A e apoio institucional da FIEB e FAEB/SENAR.

Laboratório que mede qualidade tem recorde de amostras
Com o fim da colheita do algodão na Bahia, as atenções se voltam para os testes que comprovam a qualidade da fibra. Com o incremento de 15% da produção, o estado garantiu um novo recorde de amostras analisadas em uma só safra. Mantido pelos próprios cotonicultores, por meio da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), o Centro de Análise de Fibras superou a marca do ano passado, quando realizou 1,8 milhão de amostras analisadas pelos equipamentos de High Volume Instrument (HVI) e 202.250 mil de classificação visual, ultrapassando os 2 milhões de amostras classificadas na safra passada. A previsão é que os trabalhos dentro da unidade sejam concluídos até o final do ano.

Para o gerente do Centro de Análise de Fibras da Abapa, Sérgio Brentano, o ritmo de trabalho tem sido intenso desde o mês de julho. “Para atender toda a demanda dos produtores da região, nossa equipe, composta por 106 profissionais, tem se revezado durante os três turnos, durante 24 horas por dia, de forma ininterrupta para garantir que os produtores tenham em mãos os resultados das análises para comprovar a qualidade da fibra”, diz.

Por conta do fluxo de amostras que chegam, o laboratório também bateu um recorde de análises em um só dia, quando, em 22 de setembro, foram atestadas a qualidade de 31.199 mil amostras da fibra produzidas no Oeste da Bahia.

Com os equipamentos HVI, são analisadas características como alongamento, resistência, uniformidade, reflectância, amarelamento, maturidade, grau da folha e índice de fiabilidade. Desde de 2013, a Abapa vem modernizando o laboratório. Em 2018, foi implantado o sistema Chiller, que permite maior qualidade na refrigeração do ambiente, adequando a umidade necessária para melhorar os resultados das amostras.

A entidade também investiu em cinco novas máquinas de HVI, com valor total em torno de R$ 8 milhões, e que entrou em operação nesta safra.

O presidente da Abapa, Júlio Cézar Busato, explica que esta classificação é fundamental para demonstrar a qualidade do algodão do Oeste da Bahia, levando o diferencial da fibra para o mercado consumidor.

O laboratório da Abapa integra o programa Standard Brasil HVI (SBRHVI), que padronizou a classificação de pluma no país, conferindo muito mais segurança e credibilidade para o algodão brasileiro.

O laboratório da Abapa está com 98% de conformidade do total de análises.

“É um alto nível que garante a segurança e a confiabilidade dos nossos dados para os mercados nacional e internacional”, reforça Julio Busato.

Atualmente, cerca de 40% do algodão que é produzido na Bahia é exportado para países asiáticos, como China, Indonésia, Bangladesh e Vietnã e 60% são comercializados junto às indústrias têxteis no Brasil.

Fonte: Correio da Bahia
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