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05
Mai/15

Padre Uilson de Mello:O convite ético está no rosto

Após séculos de caminhada à margem das discussões filosóficas ou, de modo distinto, atribuído como ponto periférico subjacente a outros universos, a questão da intersubjetividade surge no cenário da filosofia contemporânea marcando-a como lócus de sua permanência e âmbito para sua difusão.

Trata-se de um dos elementos que marcam o modo de pensar do século XX, sendo centro de reflexão para muitos dos pensadores que se tornaram os maiores expoentes desse século, tais como: Jean Paul Sarte, Hussel, Lévinas, Karol Wojtila, Gabriel Marcel, Marleau Ponty, dentre tantos outros.

Do ânimo á descrença, da fenomenologia ao existencialismo, quer seja denominada por empatia, alteridade, intersubjetividade, em todos os campos do saber filosófico dispensa-se especial atenção à exigente proposta de tornar a figura do outro e de sua relação para com o eu, inserida em meio ás discussões filosófica, políticas, religiosas e culturais.

Trata-se da desafiante tarefa de superação do subjetivismo que marcou toda a filosofia moderna, cujos resquícios são ainda encontrados sob a forma do pragmatismo e hedonismo, utilitarismo e relativismo, que tanto impõe à sociedade contemporânea, bem como os vários exemplos das trágicas consequências que pode gerar uma corrente de pensamento fechada sobre si mesma, ao que ilustra a II Guerra Mundial.

Por sua complexidade e abrangência, trata-se de uma discussão cuja compreensão final ainda se encontra ofuscada; ao mesmo tempo em que não se pode negar que, ser para a comunidade ou para a relação com outrem, é uma das características fundantes da humanidade.

O pensador Emanuel Levinas em uma nova perspectiva filosófica, tenta apresentar uma nova proposta Ética, tenta apresentar o rosto num sentido fenomenológico, contudo, ele apresenta algumas ressalvas, já que a fenomenologia descreve o que aparece. Talvez, podemos falar de forma fenomenológica a partir do olhar, já que a fenomenologia é conhecimento e percepção.

Assim, numa perspectiva de construir uma ética numa condição proposto por Hussel, a partir de uma filosofia que não seja somente “pragmática”, Levinas pauta sua ética a partir de uma mística. Segundo ele, a ética se dá em uma relação; por relação entende a possibilidade de junção entre separados, tal evento se dá a partir da linguagem; diz Levinas: “ele é o próprio poder de quebrar a continuidade do ser”. A palavra, dirigida a outro, tem não como tema e sim significação, falar com outro é falar a ele.

Na relação, o outro é absoluto, ele nunca é reduzido, por isso ele se torna “infinito”, cuja ideia mantém sua exterioridade. Desse infinito, é que deriva a exterioridade, que é a ruptura e o limite da totalização; a alteridade, a relação com o outro, com o todo do outro; e o rosto, propriamente, como revelação do estranho e abertura ética por excelência.

A relação ética que está na base do discurso não como desejo ou imperativo da consciência, mas cuja emanação parte do Eu, ela questiona o eu cuja impregnação parte do outro. A relação ética não é de mim, não é fruto do consentimento. O outro se evidencia e, por isso, está no mundo, cabendo-lhe o respeito ético, que não lhe é devido por simples decisão pessoal ou uma vaidade pessoal. A relação e o respeito ético, se assim se pode dizer, brotam da pura relação com o outro, que se volta ao eu, possibilitando a convivência.


Por Padre Uilson de Mello
Filósofo Teólogo e Mestrando em Filosofia da Educação pela a UFP.

Fonte: Blog do Sigi Vilares/Colunistas
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